v. 35 n. 74 (2020)

Mais um quadrimestre se encerra com muitas incertezas no que concerne à pandemia e à chegada da vacina tranquilizadora. A volta a uma normalidade “diferente” deixa-nos muito preocupados e inseguros. A crença na ciência fortalece a nós acadêmicos que vida inteira dedicamos nossos estudos à razão e à comprovação de pesquisas nossas e de outros. As jornadas intelectuais devem continuar, e as revistas científicas, como a nossa, precisam de muitos investigadores que divulguem por meio de artigos seu conhecimento e/ou do grupo a que pertencem. A defesa é uma área que se mostra cada vez mais porosa a todos os saberes que a completam ou que com ela dialoguem. Neste caminho, apresentamos, de forma sintética, os conteúdos em debate no número 74 de nossa revista, aguardando sempre o retorno de nossos leitores e cúmplices dessa aventura acadêmica.
O primeiro estudo corrobora o parágrafo anterior e apresenta os dados fornecidos por duas médicas e pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz em abril de 2020. Mayumi Duarte Wakimoto e Stephanie Lema Suarez Penetra abordam a respeito do Sars-Cov-2, vírus popularmente conhecido como Covid-19. Como o assunto é objeto de investigação, debruçaram-se sobre a realidade vivenciada e dela criaram O desafio da Covid 19 para a saúde pública, um estudo elaborado em abril, na comoção pandêmica que abalou todos nós.
No segundo texto, em Português e Espanhol, Habitus militar: reflexões sobre os sujeitos da caserna, as autoras, Nádia Xavier Moreira, Rita Emília Alves da Silva e Sabrina Celestino, realizam um estudo sobre a imagem das Forças Armadas, por meio de uma análise sobre os militares como sujeitos e grupo social. O estudo conduz a uma reflexão sobre as Forças Armadas calcada na visão de Bourdieu (2001), o que “implica considerá-las lócus de construção de um sistema alegórico e significante de práticas e símbolos, sendo estes identificadores dos indivíduos a ele pertencentes.”
O artigo intitulado Epistemologia do estudo dos atores nos planejamentos militares: desafios no alvorecer do século XXI, de André Gabriel Sochaczewski, pode ser inserido na área da Segurança. Nele, é feito um estudo sobre a análise de conflitos e os atores envolvidos. Segundo o autor, o texto objetiva investigar os fundamentos do estudo dos atores e evidenciar possíveis falhas, propiciando, dessa forma, o uso de uma metodologia mais adequada em planejamentos militares. Ainda na área de Segurança, encontra-se o estudo – Vencendo o desafio da segurança no Brasil: um olhar constitucional e integrador –, de Vinícius Damasceno do Nascimento e Daniel Mendes Aguiar Santos. No texto, é feita uma análise sobre o papel constitucional das Forças Armadas em prol da segurança pública e a possível mobilização das polícias militares no contexto da defesa nacional para a confrontação da atual crise nesse setor.
A quinta reflexão – O Brasil decide armar-se: as negociações diplomáticas com França e Estados Unidos em torno dos jatos supersônicos (1967-1970) –, de Osvaldo Quirino de Souza Filho e Luiz Eduardo Andrade de Souza aborda as negociações diplomáticas com a França e Estados Unidos na aquisição dos jatos supersônicos (1967-1970). Os autores discorrem a respeito da recusa do fornecimento dos caças F5 para os países sul-americanos, por parte do governo estadunidense, e de que forma ocorreu a obtenção de um equipamento substituto proveniente da França: jato supersônico, Mirage.
O próximo texto, Guerra, complexidade e informação: automação da percepção e os sistemas prenunciadores de vigilância, assinado por Eduardo Barros Mariutti, traz à reflexão a evolução tecnológica no meio militar e a representação dessa evolução nesse contexto, uma automação da percepção. O objetivo principal, segundo o autor, é “salientar as características básicas dos sistemas preditivos de vigilância contemporâneos utilizados tanto no campo civil como militar.”
O sétimo artigo, em versão em língua portuguesa e inglesa, Amazônia Azul do Brasil: extensão da soberania, defesa e segurança no Atlântico Sul, de Erica Simone Almeida Resende e Nayara Tavares Cardoso, trata do pedido de extensão da Plataforma Continental (CLPC) brasileira à Organização das Nações Unidas (ONU) e analisa a regulação e as implicações dessa reivindicação dos direitos de soberania sobre o mar territorial, feita ao órgão.
O texto de encerramento deste quadrimestre é Combate aos ilícitos em áreas de fronteira: uma proposta de releitura do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) com base no modelo asiático Regional Cooperation Agreement on Combating Piracy and Armed Robbery against Ships in Asia (RECAAP), de Emanuel Alexandre Moreira Pessanha e Fábio Albergaria de Queiroz. O artigo propõe uma análise do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), tratando de explicar seu funcionamento, bem como suas vulnerabilidades, e faz uma abordagem do modelo asiático do ReCAAP, a fim de verificar a possibilidade de replicação das práticas bem-sucedidas desse sistema no SISFRON.
A Revista da Escola Superior de Guerra deseja prestar seu tributo a todos que lutaram para salvar vidas e também para aqueles cuja existência foi marcada pela partida de alguém estimado. Nosso sentimento vem na forma da ciência vertida nos artigos à disposição neste periódico.
Boa leitura!!!!
Maria Célia Barbosa Reis da Silva