v. 32 n. 65 (2017)

Editorial
A finalização de cada número de uma revista científica é consequência de um trabalho conjunto entre editor, Conselho Editorial, Conselho de Pareceristas e de autores: os produtores de textos que escrevem sobre assuntos ligados à sua pesquisa e à linha editorial da Revista da Escola Superior de Guerra. É um rito de contribuição recíproca com o intento de romper as barreiras de isolamento daqueles que dedicam parte do seu tempo ao trabalho acadêmico-intelectual, à construção de novos conhecimentos e à divulgação do resultado de suas investigações. Todo conhecimento deve ser compartilhado entre muitos, não deve ficar restrito a poucos. Esta Revista, como outras cujos estudos têm afinidades, tem a missão de transmitir à sociedade e à academia os resultados de estudos e pesquisas. Com o recém-criado Programa de Pós-Graduação em Segurança Internacional e Defesa (PPGSID) da Escola Superior de Guerra (ESG), nosso periódico assume uma das finalidades basilares de um Programa em processo de avaliação: divulgar artigos (internos e externos) capazes de instigar debates dissensos e consensos, e oferecer material de consulta para os integrantes da Escola.
Os dois artigos iniciais da Revista da Escola Superior de Guerra, do segundo quadrimestre de 2017, contemplam assuntos que estão, na ordem do dia, na mídia, nos debates informais entre amigos e nos círculos acadêmicos. O primeiro texto intitulado O Islã e a civilização ocidental: reflexões de interesse preliminar ao estudo do fenômeno do terrorismo, assinado pela tríade Luis Adolfo Sodré de Castro Júnior, Anselmo de Oliveira Rodrigues e Eduardo Xavier Ferreira Glaser Mignon, versa sobre a relação existente entre o islamismo e o terrorismo. Os autores apresentam “aspectos históricos e culturais associados ao surgimento e à expansão do Islã ao longo do tempo”. O segundo texto nomeado Negligência estratégica na política diplomática com a Coreia do Norte, elaborado por Reis Friede, expõe um assunto inquietante para grande parte dos habitantes deste planeta: as farpas verbais trocadas por Donald Trump e Kim Jong-un, e efetivos testes balísticos e nucleares orquestrados pelo representante da Coreia do Norte. O articulista Friede ressalta que a atuação (ou a falta desta) por parte dos líderes norte-americanos”, desde a Guerra da Coreia, é uma das causas do atual momento crítico em escala global.
O vocábulo “guerra” e a elástica carga semântica nele contida unem, de forma direta ou transversal, os dois textos subsequentes. No artigo denominado Paradigma tecnológico e guerra: a importância da inovação para o poder de combate, os autores Vinícius Damasceno do Nascimento e João Marcelo Dalla Costa dissertam acerca do atual paradigma tecnológico militar e a importância da inovação tecnológica no Setor Defesa para a formulação do poder de combate de uma Nação. Nascimento e Costa expõem o quanto o tripé – Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) – influencia na forma do Estado fazer guerra. O artigo nomeado As fronteiras do Estado: violência, milícias, crime organizado e políticas de segurança pública em áreas socialmente vulneráveis, de Gilberto de Souza Vianna e Pedro H. Villas Bôas Castelo Branco, aborda outro tipo de conflito que, apesar de aparentemente interno, tem repercussões e interações que vão além das fronteiras do município e do estado do Rio de Janeiro e do Brasil. Essa violência envolve áreas socialmente vulneráveis e atores que atuam nesse espaço como milicianos, traficantes, e outros que vivem sob o jugo de meliantes, sem a proteção do Estado.
Os dois textos ulteriores têm como liame desenvolvimento, aquisições de material (ou armamentos) de defesa e modernização das Forças Armadas. O quinto artigo – Políticas & Aquisições de Defesa: uma análise histórica da parceria estratégica França-Brasil nos séculos XX e XXI é extrato da tese de Doutorado recém-defendida por Fernanda das Graças Corrêa. A autora pretende examinar as relações históricas entre França e Brasil na área de Defesa, desde as missões de instrução, aquisição de blindados até a entrada do Brasil nas eras supersônica, missilística e de asas rotativas, e determinar em que momento da história as relações franco-brasileiras se configuraram como parceria estratégica. No artigo posterior, O emprego dos Astros 2020 e sua subordinação: uma opção viável, produzido por Haryan Gonçalves Dias, destaca a modernização do Exército e discorre sobre o Projeto Astros 2020, “uma plataforma de lançamento de mísseis e foguetes de excepcional capacidade de prestar o apoio de fogo”.
O sétimo artigo, La reconfiguración de América latina bajo el esquema de seguridad de la “Pax Americana” en el siglo XXI: el caso de la Alianza del Pacífico, é uma colaboração acadêmica de María del Pilar Ostos Cetina, escrita especialmente para nosso periódico. A autora mexicana analisa, sob a mira geopolítica, a configuração contemporânea da América Latina “a partir dos mecanismos de defesa e segurança que foram estabelecidos pelos Estados Unidos sobre a região que considera como sua ‘ilha continental’".
O último artigo – O Brasil e as Operações de Paz, assinado por Ricardo Freire e Marcos Cardoso dos Santos, remete a uma ação que se interliga com os demais temas desenvolvidos neste número da Revista da Escola Superior de Guerra: Relações Internacionais, Estratégias de Guerra, Diplomacia, Segurança e outros. Este estudo ainda considera a presença de militares em países que necessitam de apoio após enfrentar situações-limite. Freire e ... escrevem acerca de conceitos gerais sobre as Operações de Paz conduzidas “sob a égide de organismos internacionais”, apresentam um resumo da participação brasileira em tais Operações, bem como avaliam a articulação entre os segmentos da diplomacia e da defesa do Brasil nesse contexto.
Esperamos que os artigos integrantes do número 65, volume 32, do nosso periódico ensejem debates para além do fechamento das páginas.
Boa leitura!